quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Roteirista frustrada, redatora dedicada

Deus não me fez com seios fartos, bunda redonda e altura de pavão. Com esse físico nada onipresente e um cérebro mediano, eu tinha duas escolhas na vida: ser prostituta no Brás ou escrever. Como sou preguiçosa, optei por escrever.

Meu lado mulher sempre fez eu querer me expressar demais, meu lado homem sempre me mandou calar a boca. Graças a lei Maria da Penha, resolvi mandar esse meu lado homem enfiar os dedos no próprio rabo, então decidi assumir de vez o meu lado neurótica de ser. Sabe, pra mim escrever é acabar com a censura interna. Eu já acordo censurando as roupas que vou usar, passo a tarde censurando o que vou falar para as pessoas e termino me censurando na hora de dormir - afinal carboidratos engordam. Como diria Lispector: "Escrever é como cagar, alivia e evita que a merda vá até a cabeça".

Aos 18 anos não sabia bem o que queria da vida. Fiz tanta merda nessa época que até casei com o meu primeiro namorado. Já casada, fui morar com ele no Japão e devido as nossas brigas comecei a escrever num blog sobre elas. Lá eu podia zoar bastante o meu ex-marido através de metáforas, verdadeiras figuras!
Depois de terminar o meu casamento, voltei ao Brasil e comecei a me alfabetizar de novo. Entrei num cursinho, comecei a ver mais filmes do que já via, comecei a ler  Dostoiévski.  Através desse rapaz maroto e problemático, com qual me identifico muito, percebi que o mundo é um grande marketing. Todo relacionamento envolve troca, jogatina e muito jogo de cintura. Queria muito ser escritora, roteirista e essas coisas, mas eu gosto de comer bastante - e a gente sabe que só com muita sorte e genialidade à la Woody Allen é que se pode comer bem.

Aí um belo dia estava fuçando no Youtube da vida e vi um comercial  da Coca Cola chamado Big Splash, feito pela Ogilvy. A parada misturava um universo lúdico malucão e tinha como trilha sonora o vocalista da minha banda favorita, The Ramones, fazendo cover da música What A Wonderful World do Louis Armstrong. Embora tenha achado a assinatura fraca, logo pensei clichezadamente "É isso que eu quero fazer, cara". Prestei vestibular pra ESPM e pra FAAP porque sabia que as duas eram fodas no mercado, mas como eu sempre tive esperanças de ser roteirista, pensei que a FAAP seria mais interessante por ter um curso de cinema fodido. Tudo jogatina dostoievskiana dessa mente! Quando comecei a fazer o curso de publicidade na FAAP, entrei meio que na paranoia com o meu lado adolescente - afinal tive uma fase punk, grande parte da minha ideologia e do meu conhecimento musical veio dessa cena.

Bom, vamos acabar com esse lero-lero todo e terminar a minha apresentação logo. Nunca fui dentro dos padrões em nada, nem na minha família, nem amigos, nem na ordem cronológica da vida. Como um dia eu precisarei me sustentar sozinha, resolvi virar uma profissional da crianção para também entender o mundo através de sua própria estrutura: a propaganda. Afinal a ideologia do ser humano é buscar sempre uma fuga da realidade, não é mesmo? Eu, como todo ser humano, adoro usar o entretenimento pra fazer isso. Então por que não usar essa minha vontade de criar para, de certa forma, deixar essa fuga um pouco mais emocionante. É tipo tunar um carro: ele está ali todo cru, aí eu vou lá e o deixo mais coloridão e charmoso. As pessoas gostam de carro - e as especiais de rock 'n' roll. Cheers!

2 comentários:

  1. E nada como os publicitários pra convencer o mundo de que ele pode ficar mais divertido e que isso tudo pode ser adquirido "ali ao lado", né mesmo? hehe
    É nóis, parceira de profissão! A gente vende ideias, a gente vende a alma, a gente convence os outros, a gente lucra com isso e ainda acha bonito e escreve sobre só pra abstrair... E quem vai dizer que não é divertido, certo?
    Bju!!!

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  2. ahahahaha Eu não acho bonito, acho mais bonito falar que é puta, mas como a vida é complicada...É melhor se divertir com o que temos!!! É noise, Laureta! Valeu pelos questionamentos gramaticais sempre ahahah

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